sábado, 14 de novembro de 2015

Drogas: Liberação ou restrição?

 

                                                                               Edson Batista dos Santos
edinho_ctg@yahoo.com.br
                              
          As drogas sempre estiveram presente nas vidas das pessoas, elas não são desse século, sempre existiram e na contemporaneidade, algumas têm sido produzida em laboratórios. A droga também está presente na vida cultural das pessoas, nas festas, em algumas religiões, no trabalho e em outros locais onde as pessoas convivem.
          As drogas são classificadas em licitas e ilícitas. Licitas são aquelas que são permitidas para o consumo e a comercialização por lei, com algumas restrições, como proibição para menor de 18 anos, no caso do álcool, e alguns medicamentos que só podem ser comprados mediante uma requisição médica. Já as drogas ilícitas não são permitidas a comercialização, portanto quem for pego com alguma droga ilícita poderá ser punido na forma da lei.
          Na atualidade muito tem se discutido a respeito das drogas, uso, dependência e penalidades, assim também como a liberação. Alguns países passaram a adotar uma política diferenciada com a descriminalização de algumas drogas, por exemplo, Portugal liberou a comercialização e o consumo da maconha, sendo que o usuário tem direito a comprar uma certa quantidade podendo ser penalizado se consumir mais que o permitido.   É interessante perceber que em Portugal o número pessoas presas por trafico diminuiu e que o número de usuário também. No Brasil existem políticas públicas para punir traficantes.  Já se um usuário for pego com uma quantidade pequena, não irá preso, mas passará por um processo educativo e será colocado para trabalhar em alguma comunidade, já o traficante, este pode pegar de 5 a 15 anos de prisão.
          O uso de drogas está relacionado aos fatores de vulnerabilidade e que podem ser prevenidos se identificados e trabalhados em conjunto com o social, saúde e educação.
           As drogas têm causado danos a saúde e à família, é importante que os usuários tomem conhecimento dos efeitos e das causas, percebam que podem conviver com elas de forma consciente e assim também passar conhecimento para o outro. Muitos programas trabalham com redução de danos, ou seja, uma forma de o usuário conviver com as drogas sem o uso abusivo.
          As drogas tem causado danos à vida, porém existe formas de pelo menos diminuir estes danos, Portugal e outros países estão no caminho certo, o Brasil deveria trilhar por este mesmo caminho, a liberação é a forma de ajudar pessoas que hoje se sentem criminalizadas,  usuários que são taxados de "marginais", a cada dia aumenta o numero de usuário presos, de contaminação por seringas, de doenças na boca por contato com latas enferrujadas ( consumo de crak em cachimbos feitos com latas ) de mortes por dívida e de outros malefícios que as drogas e a proibição tem causado na vida dessas pessoas, é preciso refletir sobre isto e sobre a vida dessas pessoas.

sexta-feira, 20 de maio de 2011


CUITEGI: HISTÓRIA, POLÍTICA E CULTURAL

Edson Batista dos Santos
Edinho_ctg@yahoo.com.br

Cuité como era chamada, começou a ser povoada no século XIX, o nome é derivado de um fruto muito conhecido na região, nesse período os tropeiros que iam para Mamanguape paravam debaixo dessa árvore para descansar e depois seguiam sua viagem, durante muito tempo o povoado ficou conhecido por esse nome, em 1880 houve um surto de varíola em Guarabira e muitas pessoas resolveram migrar para Cuité, por esse motivo o povoado ficou mais movimentado, e, economicamente mais desenvolvido, principalmente o comércio que foi o mais favorecido. Mas passado o surto os comerciantes que estavam instalados em Cuité não queriam voltar a Guarabira, sendo assim foi necessário o uso da força para conseguir transferir a feira e os comerciantes para a sede do município, com o passar do tempo a Vila de Cuité como era também chamada teve seu nome mudado pelo decreto lei nº. 1.164 de quinze de novembro de 1938, Cuité passou então a denominar-se Cuitegi, o Gi teria sido acrescentado como uma homenagem há uma tribo que habitava a região.
Foram os indígenas, os primeiros habitantes da região, procedentes de Mamanguape e Araçagi, que subindo o rio, caminho natural, vinham explorando o mundo virgem e verdejante, a caça e pesca abundante, se detiveram neste local e construíram suas malocas, aquela gente nômade; mais para cima, situavam-se paredões de serras escarpas e altas com o rio no meio manso, partindo de suas cabeceiras, com suas águas copiosas, incontroláveis estradas pluviais, a cujas margens se plantaram se contraram cidades e construíram civilizações (Iracema, Apud Cleodon Coelho. p. 54. 2007).
Nessa citação podemos observar o caminho percorrido pelos nativos e a construção da região, é interessante perceber que as cidades geralmente surgem pertos de rios, e acabam se desenvolvendo porque começam a cultivar uma agricultura de subsistência e até mesmo para comercialização, assim, também, como a criação de animais, bovinos, caprinos e outros que geralmente são comercializados em feiras livres.
Cuitegi manteve por algumas décadas uma economia voltada para a agricultura de subsistência, mas também houve um período em que o forte do município foi plantação da cana-de-açúcar e do sisal, essas fomentaram a região, a agave como também era chamada o sisal, proporcionou durante o século XX, um desenvolvimento significativo para a Paraíba, à procura por mudas era tão grande que não havia o bastante para atender a demanda, sendo assim as cidades mais favorecidas eram as maiores, neste contexto os municípios de Guarabira, Areia e Alagoa Grande eram mais favorecidos que os menores, entretanto não podemos generalizar a economia, é bom lembrar que durante o século XX havia também outros cultivos, não era uma monocultura voltada só para o sisal, ou para plantação da cana-de-açúcar, cultivava-se também o feijão, batata, macaxeira, inhame, havia também a criação de bovinos, e outros animais para corte, porém com uma economicamente o sisal e a cana-de-açúcar obtiveram um destaque maior entre essas outras citadas, em Cuitegi principalmente o sisal, que gerou empregos. O trabalho era braçal, as pessoas que cultivavam o sisal não tinham nenhuma proteção, havia todo um procedimentos para esse cultivo, preparava-se a terra, plantava-se, e, no período certo vinha o corte, tudo feito manualmente, e logo depois eram transportados por um cambiteiro, até o local determinado para o desfilamento. A agave não era cultivada só pelos grandes produtores, senhores de fazendas, os pequenos produtores também plantavam em suas terras essa cultura.
Houve um aumento na produção quando alguns produtores adquiriram máquinas desfiladeiras, a modernidade chega então a Cuitegi, a indústria da agave agora não é mais manual, mas até mesmo o que de moderno era para o distrito, já era antiquário pra as cidades maiores, e, as máquinas que chegaram já tinham sido usadas, eram de segunda mão, movidas a diesel.
No século XX surgem os fios sintéticos derivado do petróleo, apresentando melhor qualidade e preço mais baixo em relação ao produzido nas pequenas terras e fazendas, nesse momento há um declínio significativo na plantação do sisal e surge, então, o cultivo da cana-de-açúcar, as terras que plantavam a agave agora passam a cultivar a cana de açúcar, os bancos financiam os grandes produtores, os fazendeiros, mas os pequenos não são beneficiados nessa nova economia, e substituem a agave por outros culturas.
No dia 26 de dezembro de 1961 Cuitegi passa a ser cidade pela lei Estadual nº 2685, desmembrado-se nesse momento de Guarabira, nesse período o Governador do Estado era Pedro Moreno Gondim, até então foi nomeado um interventor para administrar a cidade até as eleições de 1962, nessa houveram dois nomes lançados ao pleito, o do senhor Antonio Paulino Filho e seu opositor Edson Cunha, o primeiro saiu vencedor, tornando-se o primeiro prefeito constitucional de Cuitegi que no momento do pleito contava com um eleitorado de 1.394, ainda nesse pleito elegeram-se os vereadores, Waldemar Farias, Luiz Guedes dos Santos, João Tiburcio da Silva, João Elias da Costa, Lindalva Tomaz Gomes, José Araújo de Medeiros e Galileu Pereira de Melo.
2. FESTA DE REIS 1960/70 ( SÉCULO XX )
A festa é a principal tradição da cidade onde todo ano no mês de janeiro é realizada com diversidades de comidas, bebidas e parques de diversões. A origem segundo Edando Alves conta-se que uma comunidade formada por mulatos e crioulos, oriunda do sítio Gameleira, em razão do cumprimento de uma promessa, todos os anos festejava esta data cristã, partindo de suas casas com batuques, estandartes e muitas flores, e o destino final era a igreja, local onde aconteciam as celebrações. A pós a celebração as pessoas iam se divertir, e apreciar as opções que a festa oferecia, uma delas era o pavilhão muito bonito e ornamentado garçonetes e bandas de musicas encantavam os participantes, os parques com sistema de som chamava a atenção dos que freqüentavam a festa, mandavam recado de amor pra suas namoradas ou quando se perdia alguém era anunciado, alguns parques manuseados manualmente sem a tecnologia que temos hoje e as crianças se divertiam com mais segurança, a tradição da festa fazia com quer viesse muitas pessoas das cidades vizinhas e os conterrâneos que moravam em outros estados também compareciam todos os ano.
A festa é inserida nas localidades rurais e urbanas como recompensa pela árdua vida de trabalho e lutas por melhores dias. Com ela vieram também os mais diversos interesses, tais como: políticos e teológicos, preocupados em manter as pessoas presas a determinados ideais ( FREITAS, apude. LE GOFF, 1976 ).
A diversão que a festa oferece gratuitamente faz com que famílias se desloquem de suas casas para ir a essas festas. As festas de tradição acontecem normalmente uma vez por ano e quando chega o dia, as cidades ficam muito movimentadas. A organização fica em alguns municípios por conta da igreja e em alguns por parte da prefeitura.
A história das festas por muito tempo ficou presa às aparências superficiais dos fatos. Os/as historiadores/as apegavam-se ao relato dos cortejos, uma imagem e arranjos políticos, deixando de buscar outros elementos que desmistificassem esse tema. As novas abordagens dadas ao tema permite-nos problematizar, reajustar e até mesmo rever seu universo, a fim de entender suas origens, suas estruturas e conceituá-la como locais de rituais, desejos e memórias ( FREITAS, apude. LE GOFF, 1976, p. 238 ).
Nesse sentido, de acordo com LE GOFF (1976, p. 217) não existe festa sem reminiscência. A festa traz o passado para o presente, manifestado pelas lembranças de quem construiu e conviveu com a história de um determinado evento festivo. Por tanto, a festa traz consigo uma série de saberes que a torna complexa, pois reúne elementos, como a esperança e as vivências cotidianas, momentâneas e celebrativas da felicidade.
Sabemos que as festas obedecem calendários criados que as identificam e as marcam em datas. Na antiguidade, os calendários seguiam os fenômenos naturais, como as fases da lua e estações do ano. A partir do século XVI, com o estabelecimento do calendário católico os festejos passaram a ser divididos de acordo com os seus preceitos. O calendário litúrgico separou a festa sagrada da profana ( FREITAS, apud. ITANI, 2003, p. 43 ).
A festa de Reis de Cuitegi é uma tradição que se repete há décadas, essa festa faz parte do calendário litúrgico da Igreja Católica comemorada nos dias 4, 5 e 6 de janeiro, sendo que essa data varia dependendo do dia de Reis 6 de janeiro. Todas as vezes que a Festa de Reis ocorre num dia de semana é transferida liturgicamente para o domingo posterior com missas sendo realizadas a tarde.
A memória como propriedade de conservar certas informações, remete nos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças as quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele representa como passadas ( LE GOOF, 2003, p. 419 ). As lembranças dos moradores de Cuitegi, sobre a festa de Reis traz ao campo da historia através da oralidade as memórias de como era a festa nas décadas de 1960-1970.
O Senhor Manoel Leite morador do município há muitos anos foi prefeito nesse período e relata acontecimentos que vivenciou nestas décadas, em entrevista contou algumas fragmentos:
Agente fazia naquela época comissão pra fazer a festa e fazer o pavilhão coberto de palha e naquele tempo não tinha banda que tem hoje, é a gente implorava a cidade de Guarabira e o prefeito de Guarabira dava a banda, vinha a banda de Guarabira né, agente fazia um palanque sabe né isso no começo, e depois foi melhorando e apareceu as bandas. Existia muito também ainda naquela época ainda, baile né tinha dois três baile, tinha baile eu ainda dancei baile, a dificuldade era a cerveja porque tanto tinha pouca cerveja era difícil encontrar cerveja assim como também tinha que encomendar uma vez teve que encomendar gelo de Santa Rita, a festa naquela época era em beneficio da igreja,quase sempre nunca dava esses lucros porque tudo que agente tinha era comprado, hoje não, tem prefeitura dá tudo né ( LEITE, 2007 ).
O depoimento do Srº Manoel revela um período de festas que havia bailes de sanfona em que as pessoas que não participavam do pavilhão iam para esses bailes a fim de se divertir, as dificuldades de contratar uma banda por isso eles apelavam a Guarabira, naquela época não havia verba para fazer festa por isso era formada uma comissão que saia arrecadando dinheiro para fazer a festa, a Srº Mauricia que também vivenciou esse período conta detalhadamente alguns acontecimentos da festa, ela participou na época sendo garçonete do pavilhão central , segundo a entrevistada as moças mais bonitas da cidade eram escolhida e saiam pelas ruas acompanhadas pela orquestras que as deixavam no pavilhão, em entrevistada relata sobre a festa e disse o seguinte:
Era uma única noite de festa, esse negoço de três noites não sei nem quando foi que começou, mas era uma única noite, pela manhã era aquela salva, aqueles tiros, era uma alvorada na rua inteira a orquestra percorria a rua inteira de meio dia outra salva e outra rodada da orquestra, ai vinha quanto era o dia todo de festa. ( SILVA, 2007 ).
No seu depoimento, a Srª Mauricia, retrata uma única noite de festa, o que portanto as pessoas esperavam o ano todo por essa festa, já que era só uma noite, os fogos de artifícios que era uma era uma festa a parte, onde as pessoas iam ver essas salvas de fogos e certamente iam se divertir, aos sons das orquestras e dos bailes de sanfonas.
O pavilhão central era restrito, pois o acesso se fazei mediante o enegreço que se comprava e a reserva de uma mesa, portanto limitado a quem possuísse dinheiro para custear as despesas de consumo proveniente da festa, geralmente coberto de palha, o pavilhão era uma festa a parte pra pessoas que tinham mais condições na cidade. A Senhora Mauricia diz o seguinte: “O pavilhão era lindíssimo era grande aqui na rua coberto de palha bem feito muito decorado de papel tinha cordão encarnado e azul”. ( SILVA, 2007).
A ornamentação do pavilhão aguçavam a curiosidade do freqüentadores da festa, tanto os moradores locais, como os visitantes. O que os atraiam para os arredores do pavilhão a observar não só quem lá se acomodava mas também a decoração. A decoração do pavilhão tornava-se um atrativo nas noites de festa, muito mais importante do que os personagens que freqüentavam-no. (FREITAS, 2005, p. 27) Havia também no pavilhão as garçonetes que eram pessoas de bem da alta sociedade de Cuitegi, a interlocutora Maurícia, nos falou em entrevista da seguinte maneira:
As garçonetes também eram moças da sociedade de Cuitegi, naquele tempo as moças melhores que eram as garçonetes, se arrumavam eram trajes bonitos muitos elegantes e saiam lá de cima onde mora Inês os cabras vinham trazer as garçonetes acompanhados de orquestra dava a volta na rua, e ali acontecia a festa as mesas muito bacana só entravam pessoa selecionada, ali ocorria a festa. ( SILVA, 2007).
Havia também os leilões onde quem dava a oferta maior levava o objeto ou animal leiloado. Esses leilões eram também uma festa aparte pois as pessoas ficavam competindo em oferta disputando pra ver quem dava a oferta maior, e sobre os leilões, segundo a Srª Mauricia ocorria da seguinte maneira: “O leilão era garrote ainda me lembro tinha garrote, tinha cacho de banana e galinha assada,era isso.” ( SILVA, 2007 )
Uma atração que está sempre presente nos festejos populares, principalmente no que diz respeito às festas das cidades são os parques de diversão, os quais exercem e fazem a alegria da população jovem e principalmente das crianças e adolescentes. Os parques de diversão se constituem uma atração no universo das festas. Os mesmos apareceram nos festejos da Festa de Reis e foram evoluindo de acordo com o processo de institucionalização da festa e com desenvolvimento tecnológico, que passou a incorporar. Nos festejos do período estudado os parques se encontravam nas proximidades do pavilhão e da igreja matriz, ali frequentavam as famílias, os parques eram naquela época movido manualmente, ou com ajuda de motores adaptados.
A Srª Mauricia em entrevista nos falou o seguinte: “O parque era na rua principal, tinha serviço de som que naquela época quando tinha serviço de som, o parque trazia serviço de som, era aquela festa, oferecia musicas era gravação” ( SILVA, 2007).
Era uma época em que os parques tinham serviços de som e as pessoas que iam a festa, ofereciam musicas e até declarações de amor. O Srº Manoel em entrevista nos falou o seguinte a respeito dos parques:”A diversão era os parques, o parque naquele tempo era composto de canoa e roda-gigante”. (Manoel Leite, 81 anos, em 07-10-2007).
Os parques, mesmos simples e sem muita tecnologia, eram objetos de diversão, hoje eles se apresentam cheios de novidades, haja vista que vivemos em uma época onde o avanço tecnológico está presente por toda parte. No entanto, não fazem a alegria das crianças como fizera outrora, sobretudo, porque alguns brinquedos são perigosos e não apresentam segurança. No passado os parques eram limitados, rústicos, hoje a população conta com uma variedade de brinquedos, dos mais variados tipos e formas, e de acordo com o gosto e faixa etária das crianças e jovens que deles pretendam desfrutar. Com a evolução da tecnologia, os parques inovaram consideravelmente, sempre trazendo novidades a cada ano.
A construção da historiografia através da oralidade é de suma importância, pois a experiência de um sujeito com uma narrativa traz de volta o passado, não o passado completamente, pois é impossível recuperar, sempre ficam lacunas e outros historiadores podem explorar afim de conhecer mais um pouco de cada história, quando estamos entrevistando uma pessoa agente começa a vivenciar a época como se estivesse em determinado lugar o que nos deixa fascinados por querer sempre continuar a produzir a historiografia através da oralidade.
REFERÊNCIAS
LIRA, Ivanildo Barbosa. A Cultura da Agave em Cuitegi-PB (1950-1970). Monografia. UEPB. 2008.
AMORIM, Iracema Alexandre. A formação do Educador em Cuitegi na década de 1960-1970. Monografia. Faculdade Atlântico. 2008.
ALVES, Ednaldo. Guarabira Um olhar sobre o passado. Campina Grande: s. e. 2007.
MONTENEGRO, Antonio Torres. A história Oral e Memória: A Cultura Popular Revisitada. 5.ed. São Paulo: Contexto, 2003.
PRINS, Gwyn. História Oral: A Escrita da História. (org). Peter Burk. São Paulo: Unesp. 1992.
LE GOOF, Jaques. História e Memória. 2ª: ed. São Paulo: Unicamp. 2003.
SILVA, Kalina Vandrlei. Dicionário de Conceitos Históricos. São Paulo: Contexto. 2005. p, 186-189.
FREITAS, Fernanda Idalina de. Festa da Luz em Guarabira-PB: Entre Rupturas e Permanências. Guarabira. Monografia.UEPB. 2005.
RELAÇÕES DE ENTREVISTADOS
Nome: Manoel Leite de Morais
Idade: 81 anos
Em: 18/10/ 2007
Nome: Mauricia da Silva
Idade: 61 anos
Em: 18/10/2007
Nome: Guilherme da Cunha Madruga
Idade: 66 anos
Em: 07/11/2007


[1] Graduando em história - UEPB
[2] Pessoa que transportava o sisal nos lombos dos burros

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A CONDIÇÃO DA POPULAÇÃO NEGRA NO PERÍODO REPUBLICANO

Edson Batista dos Santos (UEPB/CH)

edinho_ctg@yahoo.com.br

Edson Pereira Padilha (UEPB/CH)

edsonkeyboard25@gmail.com

Severino dos Ramos de Sousa (UEPB/CH)

Neste artigo abordamos a condição da população negra durante o período republicano e assim analisamos as dificuldades encontradas pelas pessoas negras para inserir-se na sociedade e desfrutar dos direitos sociais, a exemplo do acesso ao mercado de trabalho. Desta feita, a discriminação e os maus tratos fizeram parte do cotidiano destas pessoas, visto que passaram a ser taxados com termos pejorativos, além de terem sido vistos como insignificante como mão-de-obra capaz de colaborar com a modernização e o progresso do Brasil.

Palavras-chave: República, resistência, negro (a).

Antes da proclamação da República duas linhas de pensamentos surgiram a dos vencedores e a dos vencidos a dos republicanos e a dos monarquistas. Com o passar do tempo alguns monarquistas desiludidos com a experiência política juntaram-se aos republicanos. A idéia era a implantação de uma república; esse pensamento provocou a movimentação em busca da queda do regime monárquico. Segundo Costa (1999, p. 387) os republicanos consideravam a monarquia uma anomalia na América, onde só existiam republicas.

Nesse contexto começaram a surgir criticas ao imperador, algumas delas afirmavam que essa autoridade não tinha capacidade para administrar o Brasil, pois se atribuía a ele à má gestão financeira. Isso provocou descontentamento, por isso os que não comungavam com o Império buscavam uma maneira de aboli-lo.

Os republicanos com os ideais de liberdade não implantaram políticas públicas para o (a) negro (a), estes mesmo livres não conseguiram espaço na sociedade, as autoridades republicanas não tiveram nenhuma atitude que viesse favorecê-los, pois alguns eram ex-monarquistas de outrora foram senhores de escravos, e embora tenham aderido à república, isso se fez por indignação política com a monarquia. Nessa época, final do século XIX ter escravos significava ter dinheiro e prestigio, por isso quem tinha escravos tinha status e poder.

Conforme Costa (1999, p. 388) os tronos estavam por toda parte abalados pelas transformações econômicas e sociais que uma vez desencadeadas, determinaram necessariamente o desaparecimento do regime monárquico.

A priore passou-se a querer resolver os problemas da monarquia com a implantação de uma republica, entretanto o discurso republicano estava inserido nos erros e na má administração do regime monárquico, ou seja, havia uma argumentação que buscava adesões e o que se fazia era atribui-lhe os problemas econômicos, político e financeiro do país.

Desta feita a monarquia era um flagelo para o Brasil, e, não havia uma justificativa e nem coesão haver monarquia na América onde os paises eram constituídos por república. Esse era o discurso republicano que usava de estratégias para atrair os aliados.

Segundo Costa (1999, pp. 392/393) após a proclamação da Republica a voz dos monarquistas foi abafada pela euforia dos republicanos, reforçados com o coro adesistas, pressurosos em demonstrar fidelidade ao novo regime. O que se viu foi a tentativa de acabar com os ideais monárquicos, entretanto os monarquistas através dos panfletos, manifestos e protestos divulgados pela imprensa, passaram a registrar que republica não passava de um levante militar alheio à vontade do povo.

Os monarquistas acreditavam ter feito muito para o desenvolvimento e o progresso do Brasil.

O regime monárquico dera ao país setenta anos de paz interna e externa garantindo à unidade nacional, o progresso, a liberdade e o prestigio internacional. Uma simples parada militar substituía esse regime por outro instável, incapaz de garantir a segurança e a ordem ou de promover o equilíbrio econômico e financeiro e, que além de tudo, restringia a liberdade individual. ( COSTA, 1999. p. 393 )

Inconformados com a república os monarquistas começaram a apontar os erros do novo sistema e contestaram que esse era um levante militar com o apoio do povo e dos fazendeiros. O Visconde de Ouro Preto afirmou que a versão dos republicanos antes da conquista do poder político era de que tudo mudaria depois que estivessem no poder. Segundo essa autoridade o império não foi à ruína foi à conservação e o progresso (COSTA, 1999, p. 393).

Ainda segundo Costa (1999, p. 447) é opinião corrente que a proclamação da república resultou das crises que abalaram o fim do segundo reinado: a questão religiosa, a questão militar e a abolição da escravidão. Ao relacionar esses acontecimentos com o contexto do final do século XIX, essa autora destaca essas três questões. Afirma que a abolição provocou uma aliança entre fazendeiros e republicanos, outro fator também foi à questão dos militares que inconformados após a guerra do Paraguai, onde lutaram e saíram vitoriosos inclusive junto com os escravizados que participaram ativamente da guerra, os militares estavam inconformados com o não reconhecimento de sua importância social e política. Por isso no dia 15 de novembro 1889 foi instalada a república pondo fim à soberania de D. Pedro II, um ano após os escravos serem libertos pela Lei Áurea.

Seria a abolição o pivô da queda da monarquia visto que os fazendeiros que até então tinham apoiado o império se aliaram por despeito ou vingança? Eles inconformados com a monarquia passaram a optar pela república, visto que a monarquia era um sistema de governo desconhecido na América. Neste período já estava vigorando o trabalho livre, mas o Brasil continuava com o trabalho servil. Mas quando da proclamação da república a escravidão já havia sido abolida, e apesar de o (a) negro (a) está liberto não se pensou em uma maneira de inseri-lo na sociedade, a maioria não tinha para onde ir, muitos procuravam abrigo nos quilombos outros migraram para as cidades, onde passaram a tentar a sobrevivência sofrendo discriminação e maus tratos.

Mesmo após a abolição da escravidão e a implantação da República brasileira, o negro ainda continuou sendo vítima do preconceito. Taxado de vários termos pejorativos da época, pois quando se olhava para ele se fazia referência à escravidão.

Com o processo de modernização e industrialização do Brasil e a implantação do trabalho livre e assalariado, o (a) negro (a) não foi aceito e não foi visto como ser social com plenos direitos, que pudesse participar e exercer sua cidadania como qualquer cidadão e fosse respeitada a sua integridade física e moral.

Depois de sair do cativeiro, e ser liberto das amarras da colonização o (a) negro (a) adentrou no mercado de trabalho e foi rejeitado, não sendo aceito pelas elites, cujo projeto nacional pretendia minar o negro da sociedade e assim construir barreiras para impedir sua participação no mercado de trabalho formal. Não fora raro ao negro (a) chegar num estabelecimento da época em busca de emprego, e ser expulso, menosprezado e receber ofensas de que era vagabundo, ociosos. Por isso, restou-lhe o mercado informal como forma de sobrevivência.

A adversidade a que estava submetido ainda que fosse forte não impediu ao (a) negro (a) a resistência e isso contribuiu para que mantivesse acessa a chama da liberdade e dos seus ideais, o que fez com que tenha resistido à ordem estabelecida.

Além disso, os estereótipos negativos usados contra os ascendentes africanos continuaram vigentes na sociedade e chegaram à contemporaneidade. Mesmo com fim da condição de escravizado, foi legitimado pela sociedade brasileira como inferior em relação ao elemento branco, esse era dotado de uma positividade que o aproximava da cultura européia. Como destaca (Costa, p. 373) “qualquer europeu ou americano que postulasse a superioridade branca seria necessariamente bem recebido. Ele traria a autoridade e o prestígio de uma cultura superior para os ideais já existentes no Brasil”.

Apesar de a abolição ter acontecido no nosso país, não significou nesse momento a desconstrução dos valores associados ás designações de cor. E manteve-se a continuidade dos fenômenos do preconceito e da discriminação racial.

A abolição também coincidiu com o advento da República e com a disseminação das idéias de igualdade e cidadania que lhe são associadas, mas os republicanos não foram capazes de promover ações em defesa da ampliação das oportunidades para as populações negras.

Pois o que se passou a vê foi uma política de imigração promovida pelo governo no intuito de fomentar o desaparecimento do negro, cuja presença era naquele momento vista como um “mal” ao desenvolvimento nacional.

Dessa forma o Estado brasileiro promoveu a imigração européia não só por interesses econômicos, mas com o objetivo de construir uma sociedade miscigenada, onde se acreditava que pudesse alcançar a predominância da raça branca. Na época se acreditava que o progresso da nação não só dependia do desenvolvimento econômico, ou da implantação de instituições modernas, mas também do aprimoramento racial do seu povo. Neste caso o projeto nacional de modernização estava associado dessa forma ao branqueamento da nação que restringia as possibilidades de integração do negro nos espaços públicos da sociedade civil.

O processo de crescimento e modernização econômica implantado no Brasil não alterou a posição de negros e brancos na hierarquia social. A industrialização não eliminou a condição subalterna do negro e eliminou a raça como fator de organização das relações sociais e das oportunidades econômicas, pois o negro continuou tendo seu espaço negado perante a sociedade. Basta observar se tomarmos como exemplo o mercado de trabalho brasileiro, nele a cor ainda é critério de seleção como também as ocupações, ou seja. As ocupações onde o contato com o publico é mais direto vê-se que o negro quase não ocupa fica excluído, ao contrário das posições manuais que na maioria é ocupado por ele. Então, fica claro que nossa sociedade ainda utiliza a cor com a finalidade de seleção e que quanto mais alto for à ocupação na hierarquia social o (a) negro (a) é excluído (a), como mostram Hasenbalg e Silva (1992), há um processo de competição social que se desenvolve em etapas, acumulando desvantagens que impedem a igualdade de chances.

A cor, como critério de seleção no mercado de trabalho, também varia segundo o perfil da ocupação. Aquelas ocupações mais voltadas ao contato direto com o público estão mais suscetíveis à exclusão do negro, ao contrário de posições manuais. Também é forte a hipótese de que quanto mais alta a ocupação está na hierarquia ocupacional, mais refratária à absorção do negro. E de que quanto mais alto for o nível educacional exigido, maior será a discriminação no mercado de trabalho, segundo mostram Hasenbalg e Silva (1992).

A República brasileira pregava no seu discurso a igualdade e a cidadania para todos os brasileiros sem distinção de cor e raça, ao ser implantada a euforia era muito grande, pois se acreditava que as mudanças econômicas e sociais iriam acontecer de verdade eliminando de vez com a hierarquia social e a discriminação com as minorias sociais. Mas, o que se viu foi a instalação de uma Republica incapaz de promover e realizar as mudanças efetivas tão significativas para a vida social do (a) negro (a) e indispensáveis a promoção da igualdade racial.

Os (as) negros (as) libertos (a) passaram a procurar empregos nas cidades, alguns conseguiram serviços nas casas senhoriais, os homens trabalhavam geralmente de carroceiros, cocheiros, pedreiros e barbeiros, com o passar do tempo as cidades foram se tornando populosas e os (as) negros (as) e pobres passaram a a ser um problema constante na sociedade elitizada. Eles eram mal vistos, algumas capitais começaram a adotar um código de conduta, com intuito de afastá-los dos centros urbanos. Para tanto, criaram locais de habitação insalubres na periferia da cidade, não houve uma adaptação de vivência, mas, eles não deixavam de transitar nos centros urbanos onde praticavam o comércio ambulante, principalmente as mulheres negras que comercializavam alimentos, quando não conseguiam emprego alguns acabavam mendigando e roubando para assegurar a própria sobrevivência. Muitas foram presas por mendigar, por transitar em locais que não eram permitidos pela legislação mesmo assim eles acabaram sobrevivendo a tantos problemas e passam a se organizar.

Em São Paulo, apareceram o Clube 13 de Maio dos Homens Pretos (1902), o Centro Literário dos Homens de Cor (1903), a Sociedade Propugnadora de 13 de Maio (1906), o Centro Cultural Henrique Dias (1908), A sociedade União Cívica dos Homens de cor (1915), a Associação Protetora dos Brasileiros Pretos (1917); no Rio de Janeiro, o Centro da Federação dos Homens de cor; em Pelotas/RG, a Sociedade Progresso da Raça Africana (1891); em Lages/SC, o Centro Cívico Cruz e Souza (1918). Em São Paulo, a agremiação negra mais antiga desse período foi o Clube 28 de Setembro, constituído em 1897. As maiores delas foram os Grupos Dramático e Recreativo Kosmos e o Centro Cívico Palmares, fundados em 1908 e 1926, respectivamente. De cunho eminentemente assistencialistas, recreativo e/ou cultural, as associações negras conseguiam agregar um número não desprezível de “homens de cor”, como se dizia na época. Algumas delas tiveram como base de formação determinadas classes de trabalhadores negros, tais como: portuários, ferroviários e ensacadores constituindo uma espécie de entidade sindical (Domingos, 2007, p. 103).

Esses movimentos e organizações foram ganhando espaço e se fortalecendo, por isso essa política foi de fundamental importância para o (a) negro (a) conquistarem espaço no meio em que viviam. A política de branqueamento não aniquilou a população negra que conseguiu sobreviver à emigração dos estrangeiros. O (A) negro (a) foi o principal agente no setor da economia do Brasil e durante a República passaram a achar ele (a) não serviam mais para a produção econômica.

Assim passaram a discriminá-lo, ignorando-os como ser significativo a sociedade sem levar em conta a cultura, crenças e a religião que se aprimoraram do Brasil desde a inserção do (a) negro (a) no Brasil.

REFERÊNCIAS

COSTA, Emilia Viotti. Da Monarquia à República: sobre as origens da República. São Paulo: Editora da Unesp, 1999.

DOMINGOS, Petrônio. Movimento Negro Brasileiro: alguns apontamentos históricos. 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/tem/v12n23/v12n23a07.pdf

ROLINK, Raquel. Acidade e a Lei: Legislação, Política urbana e territórios na cidade de São Paulo: Nobel/Fapesp, 1999.

THEODORO, Mário, JACCOUD, Luciana, OSÓRIO, Raquel Guerreiro e SOARES, Sergei. (Orgs). As Políticas públicas e a desigualdade racial no Brasil: 120 anos após a abolição. Brasília: Ipea, 2008.

HASENBALG, Carlos Alfredo; SILVA, Nelson do Valle. Relações raciais no Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro; Editora Rio Fundo, 1992.

CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

CARRIL, Lourdes. Terras de negros: herança de quilombos. São Paulo: Scipione,1997. (ponto de apoio)

sexta-feira, 15 de maio de 2009

FESTA DE REIS EM CUITEGI 1960-1970


Edson Batista dos Santos
Graduando do Curso de História – UEPB
Genes Duarte Ribeiro
UFPB

A história oral é um recurso metodológico que historiadores e demais pesquisadores vem utilizando ao longo dos anos para registrar, construir ou reconstruir um determinado fato histórico, estruturado na memória principalmente das pessoas idosas, a historia oral vem dando significativas contribuições, no sentido de desvendar, entender um ou outro fato obscurecido pela historia oficial. Este artigo aborda a festa de Reis da Cidade de Cuitegi/PB, foi elaborado a partir da oralidade envolvendo pessoas da cidade que vivenciaram a festa nas décadas de 1960-1970. A festa é a principal tradição da cidade onde todo ano no mês de janeiro é realizada com diversidades de comidas, bebidas e parques de diversões que formam uma festa a parte. A Igreja celebra a missa sempre pela tarde no dia 06 de janeiro, no entanto Santos Reis não é o padroeiro da cidade e sim Nossa Senhora do Rosário que no calendário litúrgico é comemorado dia 07 de outubro, alguns moradores dizem que uma família que morava no sitio jacu fez uma promessa pra Nossa Senhora do Rosário, depois de alcançada a promessa levaram a santa até a igreja desde então a cidade ficou tendo como padroeira a santa, a carência de fonte deixa uma dificuldade em explorar essa parte, o pavilhão muito bonito com garçonetes é citado por um dos entrevistados as bandas de musicas, os parques com sistema de som onde os participantes da festa mandavam recado de amor pra suas namoradas ou quando se perdia alguém era anunciado no sistema de som, alguns parques manuseados manualmente sem a tecnologia que temos hoje e as crianças se divertiam com mais segurança, a tradição da festa fazia com quer viesse muitas pessoas das cidades vizinhas e os conterrâneos que moravam em outros estados também compareciam todos os finais de ano.
A festa é inserida nas localidades rurais e urbanas como recompensa pela árdua via de trabalho e lutas por melhores dias. Com ela vieram também os mais diversos interesses, tais como: políticos e teológicos, preocupados em manter as pessoas presas a determinados ideais. (FREITAS APUD. LE GOFF, 1976).
A diversão que a festa oferece gratuitamente faz com que famílias se desloquem de suas casas para ir a essas festas. As festas de tradição acontecem normalmente uma vez por ano e quando chega o dia da festa, as cidades ficam muito movimentadas. A organização fica em alguns municípios por conta da igreja e em alguns por parte da prefeitura.
A história das festas por muito tempo ficou presa às aparências superficiais dos fatos. Os/as historiadores/as apegavam-se ao relato dos cortejos, uma imagem e arranjos políticos, deixando de buscar outros elementos que desmistificassem esse tema. As novas abordagens dadas ao tema permite-nos problematizar, reajustar e até mesmo rever seu universo, a fim de entender suas origens, suas estruturas e conceituá-la como locais de rituais, desejos e memórias. (FREITAS APUD. LE GOFF, 1976, p. 238)
Nesse sentido, de acordo com LE GOFF (1976, p.217) não existe festa sem reminiscência. A festa traz o passado para o presente, manifestado pelas lembranças de quem construiu e conviveu com a história de um determinado evento festivo. Por tanto, a festa traz consigo uma série de saberes que a torna complexa, pois reúne elementos, como a esperança e as vivências cotidianas, momentâneas e celebrativas da felicidade.
Sabemos que as festas obedecem calendários criados que as identificam e as marcam em datas. Na antiguidade, os calendários seguiam os fenômenos naturais, como as fases da lua e estações do ano. A partir do século XVI, com o estabelecimento do calendário católico os festejos passaram a ser divididos de acordo com os seus preceitos. O calendário litúrgico separou a festa sagrada da profana.(FREITAS APUD. ITANI, 2003, p. 43)
A festa de Reis de Cuitegi é uma tradição que se repete há décadas, essa festa faz parte do calendário litúrgico da Igreja Católica comemorada nos dias 4, 5 e 6 de janeiro, sendo que essa data varia dependendo do dia de Reis 6 de janeiro. Todas as vezes que a Festa de Reis ocorre num dia de semana é transferida liturgicamente para o domingo posterior com missas sendo realizadas a tarde.
A memória como propriedade de conservar certas informações, remete nos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças as quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele representa como passadas(LE GOOF, 2003, p.419). As lembranças dos moradores de Cuitegi, sobre a festa de Reis traz ao campo da historia através da oralidade as memórias de como era a festa nas décadas de 1960-1970.
O Senhor Manoel Leite morador do município há muitos anos foi prefeito nesse período e relata acontecimentos que vivenciou nestas décadas, em entrevista contou algumas fragmentos:

Agente fazia naquela época comissão pra fazer a festa e fazer o pavilhão coberto de palha e naquele tempo não tinha banda que tem hoje, é a gente implorava a cidade de Guarabira e o prefeito de Guarabira dava a banda, vinha a banda de Guarabira né, agente fazia um palanque sabe né isso no começo, e depois foi melhorando e apareceu as bandas. Existia muito também ainda naquela época ainda, baile né tinha dois três baile, tinha baile eu ainda dancei baile, a dificuldade era a cerveja porque tanto tinha pouca cerveja era difícil encontrar cerveja assim como também tinha que encomendar uma vez teve que encomendar gelo de Santa Rita, a festa naquela época era em beneficio da igreja,quase sempre nunca dava esses lucros porque tudo que agente tinha era comprado, hoje não, tem prefeitura dá tudo né. (Manoel Leite, 81 anos, em 07-10-2007).



O depoimento do Srº Manoel revela um período de festas que havia bailes de sanfona em que as pessoas que não participavam do pavilhão iam para esses bailes a fim de se divertir, as dificuldades de contratar uma banda por isso eles apelavam a Guarabira, naquela época não havia verba para fazer festa por isso era formada uma comissão que saia arrecadando dinheiro para fazer a festa, a Srº Mauricia que também vivenciou esse período conta detalhadamente alguns acontecimentos da festa, ela participou na época sendo garçonete do pavilhão central , segundo a entrevistada as moças mais bonitas da cidade eram escolhida e saiam pelas ruas acompanhadas pela orquestras que as deixavam no pavilhão, em entrevistada relata sobre a festa e disse o seguinte:

Era uma única noite de festa, esse negoço de três noites não sei nem quando foi que começou, mas era uma única noite, pela manhã era aquela salva, aqueles tiros, era uma alvorada na rua inteira a orquestra percorria a rua inteira de meio dia outra salva e outra rodada da orquestra, ai vinha quanto era o dia todo de festa. ( Mauricia da Silva, 61 anos, em 28-10-2007)


No seu depoimento, a Srª Mauricia, retrata uma única noite de festa, o que portanto as pessoas esperavam o ano todo por essa festa, já que era só uma noite, os fogos de artifícios que era uma era uma festa a parte, onde as pessoas iam ver essas salvas de fogos e certamente iam se divertir, aos sons das orquestras e dos bailes de sanfonas.
O pavilhão central era restrito, pois o acesso se fazei mediante o enegreço que se comprava e a reserva de uma mesa, portanto limitado a quem possuísse dinheiro para custear as despesas de consumo proveniente da festa, geralmente coberto de palha, o pavilhão era uma festa a parte pra pessoas que tinham mais condições na cidade. A Senhora Mauricia diz o seguinte: “O pavilhão era lindíssimo era grande aqui na rua coberto de palha bem feito muito decorado de papel tinha cordão encarnado e azul”. (Mauricia da Silva, 61 anos, em 28-10-2007)
A ornamentação do pavilhão aguçavam a curiosidade do freqüentadores da festa, tanto os moradores locais, como os visitantes. O que os atraiam para os arredores do pavilhão a observar não só quem lá se acomodava mas também a decoração. A decoração do pavilhão tornava-se um atrativo nas noites de festa, muito mais importante do que os personagens que freqüentavam-no. (FREITAS, 2005, p. 27) Havia também no pavilhão as garçonetes que eram pessoas de bem da alta sociedade de Cuitegi, a interlocutora Maurícia, nos falou em entrevista da seguinte maneira:

As garçonetes também eram moças da sociedade de Cuitegi, naquele tempo as moças melhores que eram as garçonetes, se arrumavam eram trajes bonitos muitos elegantes e saiam lá de cima onde mora Inês os cabras vinham trazer as garçonetes acompanhados de orquestra dava a volta na rua, e ali acontecia a festa as mesas muito bacana só entravam pessoa selecionada, ali ocorria a festa. (Mauricia da Silva, 61 anos, em 28-10-2007)


Havia também os leilões onde quem dava a oferta maior, esses leilões eram também uma festa aparte pois as pessoas ficavam competindo em oferta disputando pra ver quem dava a oferta maior, e sobre os leilões, segundo a Srª Mauricia ocorria da seguinte maneira: “O leilão era garrote ainda me lembro tinha garrote, tinha cacho de banana e galinha assada,era isso.” (Mauricia da Silva, 61 anos, em 28-10-2007)
Uma atração que está sempre presente nos festejos populares, principalmente no que diz respeito às festas das cidades são os parques de diversão, os quais exercem e fazem a alegria da população jovem e principalmente das crianças e adolescentes. Os parques de diversão se constituem uma atração no universo das festas. Os mesmos apareceram nos festejos da Festa de Reis e foram evoluindo de acordo com o processo de institucionalização da festa e com desenvolvimento tecnológico, que passou a incorporar. Nos festejos do período estudado os parques se encontravam nas proximidades do pavilhão e da igreja matriz, ali freqüentavam as famílias, os parques eram naquela época movido manualmente, ou com ajuda de motores adaptados.
A Srª Mauricia em entrevista nos falou o seguinte:” O parque era na rua principal, tinha serviço de som que naquela época quando tinha serviço de som, o parque trazia serviço de som, era aquela festa, oferecia musicas era gravação”. ( Mauricia da Silva, 61 anos, em 28-10-2007)
Era uma época em que os parques tinham serviços de som e as pessoas que iam a festa, ofereciam musicas e até declarações de amor. O Srº Manoel em entrevista nos falou o seguinte a respeito dos parques:”A diversão era os parques, o parque naquele tempo era composto de canoa e roda-gigante”. (Manoel Leite, 81 anos, em 07-10-2007).
Os parques, mesmos simples e sem muita tecnologia eram objetos de diversão, hoje eles se apresentam cheios de novidades, haja vista que vivemos em uma época onde o avanço tecnológico está presente por toda parte. No entanto, não fazem a alegria das crianças como fizera outrora, sobretudo, porque alguns brinquedos são perigosos e não apresentam segurança. No passado os parques eram limitados, rústicos, hoje a população conta com uma variedade de brinquedos, dos mais variados tipos e formas, e de acordo com o gosto e faixa etária das crianças e jovens que deles pretendam desfrutar. Com a evolução da tecnologia, os parques inovaram consideravelmente, sempre trazendo novidades a cada ano.
A construção da historiografia através da oralidade é de suma importância, pois a experiência de um sujeito com uma narrativa traz de volta o passado, não o passado completamente pois é impossível recuperar sempre ficam lacunas e outros historiadores podem explorar afim de conhecer mais um pouco de cada história, quando estamos entrevistando uma pessoa agente começa a vivenciar a época como se estivesse em determinado lugar o que nos deixa fascinados por querer sempre continuar a produzir a historiografia através da oralidade.




Praça localizada no centro da cidade


REFERÊNCIAS



MONTENEGRO, Antonio Torres. A história Oral e Memória: A Cultura Popular Revisitada. 5.ed. São Paulo: Contexto, 2003.

PRINS, Gwyn. História Oral: A Escrita da História. (org). Peter Burk. São Paulo: Unesp. 1992.

LE GOOF, Jaques. História e Memória. 2ª ed. São Paulo: Unicamp. 2003.

SILVA, Kalina Vandrlei. Dicionário de Conceitos Históricos. São Paulo: Contexto. 2005. p, 186-189.

FREITAS, Fernanda Idalina de. Festa da Luz em Guarabira-PB: Entre Rupturas e Permanências. Guarabira. Monografia.UEPB. 2005.